
“Somente quando estamos em sintonia com o nosso destino, com os nossos pais, com as nossas origens e tomamos nosso lugar, temos a força (…) Quando falamos em sistema familiar, as pessoas estão para os órgãos assim como o sistema familiar está para o nosso corpo. Dentro da família, cada um tem seu lugar, assim como os órgãos. O sangue leva tudo para os órgãos e, no sistema familiar, o que mantém os vínculos entre os integrantes da família é o amor.” (Bert Hellinger)
Constelação Familiar é um método psicoterapêutico com abordagem sistêmica não empirista ou subjetiva, desenvolvido pelo psicoterapeuta alemão Bert Hellinger, que elaborou suas inerentes “Ordens do Amor”, um lindo conceito para compreendermos o sistema familiar em que estamos inseridos. Essa técnica utiliza pessoas desconhecidas do cliente para interpretar sua família, de forma a reconstruir a árvore genealógica, o que permite localizar e remover bloqueios do fluxo amoroso de qualquer geração ou membro familiar, permitindo que a pessoa encontre e tome o seu real lugar nesta hierarquia geracional.
Pode ser realizada em grupo – ou individualmente, com utilização de bonecos, figuras ou outras formas de abordagem do terapeuta. A terapia se dá através da reunião do terapeuta, do cliente e de um grupo de pessoas que são convidadas a representar membros da sua família. A sessão tem início quando o cliente manifesta a questão que quer trabalhar e escolhe representantes para seus familiares.
Conheço o trabalho de Constelação Familiar desde 2008 e, ao longo de anos, venho indicando-o a todos que conheço. Após ter vivenciado inúmeras experiências em grupo e individuais, auxiliando e sendo auxiliada, presenciando amigos, pacientes, conhecidos e colegas que também constelaram, vejo o quanto esta técnica terapêutica é profunda, intensa e eficaz, um grande passo que podemos dar em nossa jornada evolutiva para que possamos trazer a clareza e o entendimento sobre todas as partes de nós mesmos.
Percebo sua eficácia na brevidade das sessões terapêuticas que logo apresentam resultados, um trabalho capaz de identificar a origem de muitos dos “males” que nos afligem e, através da frequência do amor, desatar nós, trazer a compreensão de coisas não resolvidas e abrir novas portas para o futuro.

Muitas dificuldades pessoais, bloqueios emocionais, padrões inconscientes, comportamentos e problemas de relacionamento são resultado de confusões nos sistemas familiares. Esta confusão ocorre quando incorporamos em nossa vida – sem que queiramos ou que tenhamos consciência – o destino de outra pessoa ou de alguém que já viveu no passado, não importa quanto tempo tenha partido. Isto nos faz repetir “o destino” dos membros familiares que foram excluídos, esquecidos ou não reconhecidos no lugar que lhes pertencia, de forma que podemos passar a viver uma vida que não seja de fato o nosso real propósito.
A meta desta abordagem é “unir o que está neuroticamente separado e separar o que está neuroticamente unido”, encontrando o ponto de equilíbrio. Isso significa resolver envolvimentos desarmônicos, separar o que estava “misturado” e incluir partes que anteriormente estavam excluídas, permitindo que o cliente alcance a integração em um nível mais elevado.
A Constelação se baseia na existência de uma consciência familiar que “rege” nossos destinos, ou seja, cada vez que uma das ordens desta consciência é quebrada, ela age no sistema familiar através de seus membros para que haja uma compensação. Uma destas ordens é o direito ao pertencimento: todos, no sistema familiar, têm o mesmo direito de pertencer.
Isto implica que, cada vez que alguém é excluído do sistema – normalmente por questões morais – a consciência familiar escolhe um membro de uma geração posterior ao excluído para que tenha um destino semelhante e difícil. Crianças abortadas, criminosos, alcoólatras, doentes mentais, prostitutas, filhos ilegítimos, todos se enquadram neste grupo de excluídos. Somente quando estas pessoas são reconhecidas e incluídas no coração da família, aquele que estava identificado com o excluído pode seguir seu próprio destino livremente.
O trabalho sistêmico vem a partir da concepção da vida, do fluir no desenvolvimento natural. Estamos inseridos dentro de um grande sistema contínuo, de diversos elementos que se interagem e, de certa forma, são interdependentes uns com os outros. Segundo Bert Hellinger, cada um de nós é um sistema e, por essa razão, nenhum organismo é um sistema estático, fechado ao mundo exterior, mas sim um sistema aberto, onde há uma constante troca de informações entre os mais diversos níveis de nosso ser.
Nascemos dentro de um sistema familiar, que existe há muitos anos e onde não sabemos direito o seu histórico completo. Foram gerações atrás de gerações com muitas histórias, acontecimentos, situações felizes, tristes e até mesmo trágicas. Herdamos através dos nossos pais e ancestrais toda a carga morfogenética e não nos damos conta dos padrões, das crenças e até mesmo das repetições de estórias dentro da nossa família. Com isso, a Constelação Sistêmica Familiar quebra esses círculos viciosos. Revela os mecanismos inconscientes do nosso comportamento e as influências externas. Quando essas influências se mostram nas constelações, o indivíduo recupera seu poder de fazer escolhas, se torna mais livre e produtivo.
Uma outra ordem abordada é a de precedência. Significa que quem vem antes dá e quem vem depois recebe; quem vem primeiro tem prioridade. Quando alguém toma o lugar de outro que o precede, o sistema familiar entra em desequilíbrio. Um filho que assume “ares” de pai, um irmão caçula que se arroga direitos de primogênito, um filho que toma para si os problemas dos pais e os coloca em julgamento, são alguns perturbadores desta ordem. Durante a Constelação Familiar, estas dinâmicas ocultas afloram de maneira surpreendente.
Portanto, a Constelação nos traz a oportunidade de identificarmos, de forma consciente, o que está acontecendo com o sistema familiar e onde estamos posicionados – de forma equilibrada ou não – podendo assim resolver conflitos a partir da escolha interna de cada um. Podemos constelar para ajudar em conflitos familiares relativos a pais, filhos, irmãos, tios, avós, bisavós…, conflitos entre casais, dificuldade em lidar com perdas de parentes, pessoas queridas ou parceiros, dificuldade em relacionar-se de uma forma geral, dificuldade em comunicar-se, problemas de saúde, conflitos entre sócios, funcionários e clientes, dificuldades ou perdas financeiras, entre outros temas.
Uma analogia interessante sobre a Constelação foi descrita no blog de uma terapeuta consteladora, uma descrição que considero perfeita para explicar como nos sentimos numa experiência como esta: “(…) a todo instante, milhares de ondas de rádio cruzam o espaço sem que possamos acessá-las. Assim que um aparelho de rádio é ligado e uma determinada freqüência é escolhida, passamos a ouvir imediatamente sua programação. No caso das constelações familiares, o membro da família é o responsável por ‘autorizar’ que a freqüência de sua família seja sintonizada e possa ser captada no ambiente. A partir de como os representantes se sentem e se movimentam, é possível perceber os emaranhados com clareza, dando início à sua dissolução (…) Neste momento, instala-se no ambiente um ‘campo’ que traz à luz aquilo que está atuando em seu sistema familiar.”
Penso que todas as pessoas, em algum momento da vida, deveriam passar por essa experiência porque é simplesmente única e intransferível, e mesmo que estejamos apenas representando o familiar de alguém, certamente sempre estaremos vendo neste “papel”, nesta personalidade, algo sobre nós mesmos que ainda precisaremos modificar e evoluir.
É um trabalho sem precedentes e com resultados visíveis, indicado para qualquer pessoa ou caso, para que cada um se sinta pertencendo, no seu lugar, seja no trabalho, nas parcerias, nos relacionamentos, seja no amor, na prosperidade e na vida. Ocupar o lugar na hierarquia do sistema familiar nos coloca novamente em sintonia com o fluir da vida e com o nosso destino. Portanto, se você se identificou com esta matéria, se essas palavras ressoaram dentro de você, procure um Constelador. Constele! 😉
Assista a Reportagem do Programa Fantástico, de 14/05/2017: A reportagem mostrou como tribunais brasileiros estão usando a técnica de Constelação Familiar – Direito Sistêmico – para facilitar a mediação de conflitos, principalmente na Vara de Família, em questões como pensão e guarda de filhos. A ideia é humanizar a Justiça e aumentar a porcentagem de solução dos casos. Segundo estatísticas gerais: 31% dos casos são solucionados quando um dos pais constela, sendo 71% dos casos quando ambos os pais se colocam à disposição para o trabalho de Constelação Familiar.